Carta a um amigo

“Oi, querido,

Voltei para te encher. Na verdade, queria mesmo era compartilhar contigo uma história muito bacana e relativamente desconhecida até na Itália.

Neste final de semana, dei um pulo a Colonnata, uma cidadezinha no cume de uma montanha na zona litorânea da Toscana, que é famosa por ser a terra natal do lardo (o Lardo de Colonnata I.G.P.).

Talvez você já saiba, mas o lardo, que no Brasil não é nada fácil de achar, é um salume feito basicamente de gordura de porco (a parte equivalente ao nosso pneuzinho), envolto em sal e especiarias e curado por 6 meses. É absolutamente delicioso fatiado bem fininho sobre uma fatia de pão quente.

Fatias de lardo prestes a derreter sobre uma fatia de pão quentinho
Fatias de lardo prestes a derreter sobre uma fatia de pão quentinho

Mas o que faz a história do lardo de Colonnata tão particular é a sua íntima relação com o território: a cidade é uma fração de Carrara, a terra do mármore por excelência e, de todos os lugares se vê à frente uma montanha gigante, toda escavada, com o branco do mármore que quase cega os olhos.

Pois bem, o que o lardo tem a ver com a montanha? Primeiro, o lardo é feito a partir de um dos cortes menos nobres do porco e, por tal razão, era uma das poucas partes que sobravam para os mineiros que trabalhavam na montanha – sem contar que toda aquela gordura servia para repor as energias depois de horas a carregar pedaços gigantes de mármore.

Segundo, o processo de cura do salume é feito exclusivamente em “caixinhas” de mármore de Carrara, todas personalizadas, desenhadas e lindas.

Caixinha de mármore na qual o lardo é curado
Caixinha de mármore na qual o lardo é curado

Sim, pode ser que o fato ter ouvido essa história de uma senhora local que produz lardo desde sempre (e que está lutando contra a modernização imposta pelas entidades que o certificam como IGP) tenha feito com que para mim tudo parecesse mais lindo do que de fato é, mas fiquei com vontade te contar.

Beijos!”

Peças vendidas no "Al Lardo, Al Lardo", em Colonnata
Peças vendidas no “Al Lardo, Al Lardo”, em Colonnata
Esse texto é a reprodução de um email que mandei a um querido amigo jornalista gastronômico. Quis compartilhar também com vocês.

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