Melhor que Veneza

Eu com cara de "por onde começo?"
Eu com cara de “por onde começo?”

Para a maioria das pessoas, Vêneto é sinônimo de Veneza – no máximo, alguém pode também pensar em Verona. Mas, para além desses destinos super turísticos (que valem, sim, muito à pena), se alguém estiver interessado na cozinha local, a melhor pedida é Chioggia.

Assim como Veneza e as vizinhas Murano e Burano, Chioggia é também entremeada por canais. Ali, porém, nada é muito luxuoso, ou espetacular; é uma vila de pescadores e o que vem do mar vira sustento dos locais, e vai para a mesa de toda a região.

Se na sua vizinha famosa é praticamente impossível comer bem (principalmente sem gastar rios de dinheiro), em Chioggia é o contrário. E quantos pratos típicos! – e eu diria mais, são quase “endêmicos”, já que alguns ingredientes podem ser encontrados só ali.

No fim de semana passado acabei indo para lá e, por sorte, parei em um lugar super pequeninho (Osteria Penzo), um pouco escondido, mas onde tudo, absolutamente tudo tinha sido recém pescado. Ouvi o dono do lugar dando um sermão na mesa ao lado, quando uma senhora perguntou se no prato “fritto di mare” (tipo um tempurá de frutos do mar) tinha aqueles anéis de lula bem grandões: “Olha, senhora, o que tem no meu prato não é o que a senhora encontra naqueles saquinhos congelados. Aqui, coloco só o que vem fresco do barco, e não é a estação melhor para lulas. Por isso, se tiveram sorte e pescaram lulas grandes hoje, haverá lulas grandes. Se não, não.” Simples assim. (No final das contas, a senhora teve sorte, porque a cozinha estava cheia delas.)

Pedi um misto de antepastos e me surpreendi com a variedade e a explosão de sabores tão diversos (dá para ver minha cara curiosa na foto, não?).

Ecco o que tinha no prato:

Seppie al nero con polenta bianca”– pequenas lulinhas cozidas na sua tinta e um pouco de tomate, sobre uma polentinha branca, típica do Vêneto. Um espetáculo.

“Seppie al nero con polenta bianca”
“Seppie al nero con polenta bianca”

Baccalà mantecato”– outro prato típico da região: bacalhau desfiado e cozido até virar quase um creme. Normalmente, adiciona-se leite, mas o chef me garantiu que ali não tinha nada disso. Era bacalhau e salsinha – e era estupendo.

"Baccalà mantecato"
“Baccalà mantecato”

Sardele in saore”– tipo um escabeche de sardinhas frescas, com cebola e uvas passas. Doce e ácido na medida certa.

“Sardele in saore”
“Sardele in saore”

Uova di seppia”– ovas de lula. Nunca tinha comido, mas é interessante. Tem gosto de lula, mas uma consistência estranha, um pouco mais farinhenta. Divertido.

"Uova di seppia"
“Uova di seppia”

Paté di orata”– orata, que é um peixe super delicado, também desfiada e misturada a um creme. Por alguma razão, o saber me lembrava o da casquinha de siri. Um paté para comer com o garfo.

"Paté di Orata"
“Paté di Orata”

Insalata di seppia” – lulas servidas cozidas e servidas mornas com um molhinho de limão e salsinha. Não é difícil de encontrar fora do Vêneto, mas o frescor do ingrediente fazia a diferença.

"Insalata di seppia"
“Insalata di seppia”

Foi, enfim, um verdadeiro passeio turístico pela gastronomia chioggiotta. A quem estiver de passagem por Veneza e quiser sair do buchicho e comer bem, recomendo vivamente.

 

2 Comments

  1. Maravilhosos o texto, as dicas, o blog! apenas um aviso aos navegantes: de preferência deve ser visto após as refeições!!!!rsrsrs

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