Mesmo com o coração apertado, não estive no Brasil durante a Copa do Mundo. Ainda assim, de longe, acompanhei tudo, sofri junto e, principalmente, me mantive sempre a par de todos os comentários descrentes e pessimistas que proliferaram por toda parte antes que a bola rolasse efetivamente.
E confesso que, nos últimos meses, tenho sentido um certo dejà vu aqui na Itália. Não, nenhum mega evento esportivo está para acontecer, mas sim a maior exposição do mundo, a EXPO 2015, que começara amanhã, em Milão.

Já falei dela aqui, mas só para relembrar – até porque sei que aí no Brasil pouquíssima gente sabe que um evento tão importante está para acontecer – as exposições universais são eventos nos quais diversos países convidados expõem suas novas tecnologias e projetos em pavilhões nacionais. A primeira delas ocorreu em 1851 em Londres e, a partir de então, a cada cinco anos, uma cidade sede é escolhida para receber o evento. Se, originalmente, não havia um tema definido, hoje em dia cada evento conta com um mote.
Esta edição será o maior evento já realizado sobre os temas alimentação e nutrição. Ao longo de seis meses, Milão se transformará em uma enorme vitrine onde mais de 140 países, incluindo o Brasil, mostrarão suas mais recentes inovações tecnológicas e projetos sobre o tema.




O pavilhão verde e amarelo terá como slogan: “erradicar a fome do mundo com soluções” e se estenderá por mais de 4000 m2. O projeto é mostrar ao mundo algumas pesquisas nacionais, modelos de produção e consumo consciente de comida, tendo em conta a riqueza da biodiversidade brasileira.
Segundo fontes oficiais, a participação se baseará no seguinte tripé: tecnologia (desenvolvimentos tecnológicos), cultural (enfatizando a pluralidade da nossa cozinha) e social (a democratização do acesso a uma alimentação sustentável e saudável).

Os números são espetaculares: uma área, completamente restruturada de 1,1 milhão de metros quadrados e a expectativa de que mais de 20 milhões de visitantes do mundo inteiro batam ponto por lá entre este primeiro de maio, até dia 31 de outubro (até uma nova estação de trem foi criada por lá).

Mas, se o assunto é a EXPO, por que raios eu comecei esse texto falando da Copa do Mundo? É que, incrivelmente, apesar dos números acachapantes e da beleza do projeto, aqui só se fala sobre os problemas: no início do ano, foi descoberto um sistema de propina envolvendo alguns dos mandachuvas do projeto; todos os dias, os jornais noticiam novos escândalos e atrasos (realmente, sabe-se que amanhã nem todos os pavilhões estarão 100% prontos); os sindicatos trabalhistas estão enfurecidos dizendo que os contratos de trabalho são irregulares e, para completar, ao longo de toda esta semana centenas de manifestantes pararam Milão com protestos “anti-EXPO”.
Para o bem, ou para o mal, esse evento ainda dará muito o que falar ao longo dos próximos seis meses. Eu pretendo ir o quanto antes, experimentar iguarias de todos os lugares do mundo (porque lá também se vai para comer!) e não vejo a hora de compartilhar tudo com vocês.
No meio tempo, fica minha torcida para que dê certo, afinal, quem é que não veste a camisa de um mundo mais saudável e mais gostoso?
