
Já falei mil vezes aqui sobre a minha indignação com o fato que não se fale da EXPO Milão 2015 no Brasil. Vocês, por outro lado, devem estar cansados de ler e ouvir notícias (praticamente as únicas) vindas da Itália a respeito do enorme problema dos imigrantes ilegais e refugiados que a cada dia chegam aos milhares no país e, sem soluções políticas a curto prazo, ficam sem ter para onde ir, além de lugares públicos como a estação de trem de Roma e, principalmente, Milão.
Pois bem, justamente nessa cidade, sede da EXPO de vitrine da Itália para o mundo, o chefe recém eleito pela “50 Best Restaurants” como o segundo melhor do globo em 2015, Massimo Bottura – que vira e mexe aparece no Brasil – e o diretor Davide Rampello resolveram pegar o mote da EXPO (“nutrir o mundo”) e oferecer a centenas de pessoas em dificuldade da cidade comida feita por Bottura e mais de 40 chefs estrelados do mundo a partir dos ingredientes que sobram da EXPO.

Isso mesmo, todos os dias, dois caminhões com câmeras frigoríficas passam pelos pavilhões recolhendo o que não foi utilizado durante o dia – e que seria jogado fora – e levam tudo ao recém-criado “Refettorio Ambrosiano”, um refeitório publico que une conceitos geralmente muito distantes entre si: solidariedade, cultura, arte e cozinha de excelência.

Tendo como sede um antigo teatro anexo a uma igreja, no bairro Greco de Milão, o lugar foi inteiramente restruturado por uma equipe de engenharia e arquitetura do renomado instituto Politecnico di Milano e enriquecido com obras de arte contemporânea

e móveis de design de inúmero artistas italianos.

Entre maio e julho será visitado por grandes cozinheiros e, depois da EXPO, o projeto continuará, sendo tocado inteiramente pela pastoral Caritas Ambrosiana. Esta, em seu último relatório, divulgou dados alarmantes: entre 2008 e 2012, aumentou aproximadamente um terço o número de pessoas que vieram à pastoral pedir cestas básicas. Do outro lado, a estimativa é que, na Itália, 25% dos alimentos adquiridos semanalmente na Itália sejam jogados fora (o equivalente a 1.600 euros por ano, por família). Por ano, o desperdício alimentar doméstico seria equivalente a 8,7 bilhões de euros, ou seja, quase meio ponto percentual do PIB italiano.
Diante desses dados, Bottura e seus amigos fizeram um pacto: “trabalharemos com aquilo que sobra da EXPO, transformando tudo que teria sido descartado, exatamente como faziam as pessoas antigamente, principalmente as famílias que não tinham nada durante a guerra”. E continua “é daí que temos que começar, é essa a centelha de esperança, é por meio da humildade que podemos de novo alimentar a paixão e o sonho no nosso País”.
Atitudes como essa nos fazem pensar que nem tudo está perdido no mundo !
Concordo plenamente, Cinira…!
Obrigada pela visita!
Um beijo,
Flora