Neste final de semana, Milão esteve mais brasuca que nunca: show aclamadíssimo de Caetano e Gil (que o jornal o Corriere della Sera classificou como “um milagre da perfeição”), visita da presidente Dilma à EXPO 2015 (que balançou, mas não caiu na rede do pavilhão brasileiro) e, ainda ali na exposição universal, uma participação especialíssima de um dos nossos chefs mais talentosos da atualidade, Rodrigo Oliveira, do Mocotó, que por um final de semana apresentou seus pratos em um restaurante dedicado aos melhores chefs do mundo.
Com o coração esmigalhado, não consegui ir ao show; com um certo alívio, não topei com a Dilma; mas, graças a uma boa pitada de sorte, e sem saber, acabei me deparando com o esplêndido menu do Rodrigo enquanto passeava pela EXPO.

Era hora do almoço, eu e meu noivo Simone estávamos tentando decidir onde comer – bar de tapas espanholas? Food truck holandês? Buffet do Catar? Restaurante do Cazaquistão? – e, por acaso, passamos na frente do Identità Expo, um espaço do projeto Identità Golose, onde a cada semana um chef estrelado diferente apresenta um menu degustação de quatro pratos, cada qual acompanhado por um vinho especial (preço: 75 euros por pessoa). Não acreditei nos meus olhos quanto vi isso aqui:

Carreguei o Simone, meio ressabiado, pra dentro e a festa começou.
De entrada, um antídoto perfeito para os 30 e tantos graus lá de fora: “Chibé” camarões “quase-cozidos” sobre cuscuz amazônico e, já à mesa, na frente do cliente, regado com um caldinho frio super refrescante e azedinho, com coentro, cebola e outros ingredientes mágicos que só o chef sabe tirar da cartola.
Em seguida, meu preferido, que me transportou diretamente para minha casa no litoral norte de São Paulo: peixe do dia (merluzzo) com pirão molinho e chips de farinha de mandioca (!!). Daria o nome de “peixe alla saudade de casa”.

Depois, o mais novo xodó do meu amor: pescoço de porco cozido muuuuito lentamente (mais precisamente por uma noite, a 82 graus!), servido com uma deliciosa farofinha de milho com legumes. O Simone, que a cada garfada inventava um elogio diferente, gostou tanto do porquinho que trocou a sobremesa por um bis.

Para (quase) terminar – já estava com os olhos marejados – uma sobremesa que tinha o Brasil inteiro dentro: sorvete delicado de café, com migalhas de biscoito de castanha-do-Pará, e um molhinho com gotas dessa fruta estranha e maravilhosa, a umburana (lembrava cupuaçu), que nunca tinha experimentado.

Agora sim, para fechar de vez com chave de ouro, uma visitinha do chef diretamente da sua “quebrada” na Vila Medeiros à nossa mesa, em Milão.

Basta dizer que tenho plena convicção de que sua simpatia é o ingrediente secreto de cada um de seus pratos, e que (também) por isso, atingem o nível que poucos alcançam.
Ao chef Rodrigo, dois recados: 1) nosso muito obrigada, de coração, e 2) antes de irmos te visitar na quebrada, vamos tentar fazer o porco, do jeito que você tão carinhosamente nos explicou.
É nóis!