No último final de semana, o centro histórico de Cesena (uma cidade a mais ou menos 100 quilômetros de Bologna) foi mais uma vez palco da maior celebração da cozinha internacional na Itália: o Festival Internazionale del Cibo di Strada (Festival Internacional da Comida de Rua).
Essa oitava edição, que contou com o apoio institucional do selo Slow Food, teve a participação de dezenas de expositores de diversos países e ainda representantes de muitas regiões italianas.
Desta vez, o Brasil não marcou presença, mas vários hermanos sul-americanos bateram ponto, com destaque para o mega churrasco argentino (devidamente acompanhado da cerveja Quilmes),

as empanadas peruanas e as arepas venezuelanas.

O evento foi dividido em duas praças, a Piazza dela Libertà, onde foram organizadas todas as barraquinhas e a Piazza Giovanni Paolo II, a “Food Truck Area”. Além de muitos quitutes, quem passou por lá também pode participar de palestras e oficinas gastronômicas.

É interessante notar que um evento como esse não é algo trivial aqui na Itália, já que grande parte dos italianos torce o nariz para comidas que não tenham “gosto de casa”. E, se mesmo pratos típicos de cozinhas de outras regiões do país já são considerados exóticos por alguns, imagine então quitutes típicos da Romênia, Japão, México, Índia e etc.
Uma celebração como essa, portanto, não é só um ótimo cartão de visitas para que alguns céticos experimentem pratos que, em outras ocasiões, jamais teriam a oportunidade (ou a coragem) de enfrentar, mas tem também um certo caráter didático, de abertura a novas culturas gastronômicas.
Claro, tudo pode ser feito em “doses homeopáticas”, inclusive misturando sabores novos com aqueles familiares. Ou seja, um pedacinho de samosa indiana aqui, uma pizza ali; um guioza e uma piadina; uma empanada e um canolo siciliano e por aí vai. (E o tamanho das filas na frente dos stands confirmam justamente isso: os mais concorridos eram o indiano, o mexicano, o de Palermo e aquele de Napoli.)

Ainda, a escolha pelo street food é certeira seja por razões “teóricas”, como bem práticas. Primeiro, a comida de rua (por mais fluído que seja esse conceito) é talvez a expressão mais genuína da comida popular de um determinado lugar – e, por ser barata e servida fora de restaurantes, é mais acessível a todos. Assim, apresentar menus de diversos países significa dar um gostinho do verdadeiro dia-a-dia do lugar.
Por outro lado, falando de questões mais práticas, é possível experimentar diversas opções diferentes (pois as porções normalmente não são gigantes) e, já que a maioria das coisas se come com as mãos, dá para comer em pé tranquilamente, sem que o pratinho vire no colo, ou a faca de plástico não corte…

Assim, iniciativas como essa – que andam explodindo em todos os lugares do mundo – têm tudo para ser mais do que uma nova modinha; têm o potencial de abrir novos horizontes gastronômicos e, por que não, de levar um pouco das ruas do mundo para a esquina de casa.
