
Dentre minhas lembranças literalmente mais doces da Páscoa estão as manhãs de domingo na casa da minha avó, quando eu era pequenininha e não via a hora de levantar da cama para seguir a trilha de pegadas brancas – que mais tarde descobri serem de farinha – que o coelhinho da Páscoa deixara na noite anterior, quando trouxera os ovos de chocolate para mim.
Por isso, mesmo mais tarde, já grande e descrente da existência de seres mágicos (não de todos, confesso…), não consegui mais dissociar Páscoa do “binômio coelhinho-ovo de chocolate”.
Mas, incrivelmente, ao chegar na Itália percebi que as coisas não são assim em todos os lugares do mundo. O bichinho é até visto aqui e acolá, mas não é o protagonista. Aliás, qual não foi meu choque quando fiquei sabendo que, aqui, não é o coelhinho que traz os ovos!
Na verdade, ninguém conseguiu me explicar exatamente quem o faz (ou melhor, todos sabem que são os pais que vão lá comprar os doces), e as crianças simplesmente não se perguntam da onde eles vêm.

Falta de fantasia à parte, a Páscoa aqui é muito mais uma celebração católica do que uma festa infantil. Durante toda a quaresma, existem missas e procissões por todas as cidades e, acredito piamente, as senhoras cristãs se empolgam muito mais com esse período do que as crianças…
Mas, mesmo sem coelho, ovo tem! Seu simbolismo, porém, é essencialmente religioso – o renascimento de Cristo. Por essa razão, é tão comum encontrar ovos “clássicos” de chocolate, como aqueles que vemos aos montes no Brasil, quanto ovos de galinha de verdade, decorados, coloridos, e recheados com chocolate.

Raramente se veem ovos gigantes, mas se você procurar bem pode encontrar ovos engraçadinhos, como o meu carneirinho no início deste post e esses aqui:
E, surpreendentemente, é mais fácil encontrar colombas do que ovos; na verdade são quase onipresentes, mais ou menos como o panettone no Natal: em todas as confeitarias, padarias, mercearias e etc. elas aparecem.
À diferença do doce natalino, a colomba tem o formato do passarinho que lhe dá o nome e é coberta com açúcar e amêndoas. Sua massa, praticamente igual à do panettone, tradicionalmente não tem frutas cristalizadas nem chocolate. Mas, ainda bem, alguns ousam quebrar essa regra:

Dito tudo isso, confesso que ainda não me acostumei com a ausência daquelas “cabanas” com tetos de ovos, presentes em todas as lojas e supermercados no Brasil; muito menos com a falta do meu amiguinho coelho.
Páscoa estranha essa… mas fazer o quê?