Osteria, trattoria, bar… o que é o quê?

Indo direto ao ponto, é difícil comer mal na Itália. Por isso mesmo, quando bate a fome, são tantas as opções que não é tarefa fácil escolher onde ir. Hoje, porém, quero complicar ainda mais, adicionando outra variável à equação: a tipologia do lugar.

Me explico: você já parou para pensar que existem diferenças entre um restaurante (em italiano, ristorante), uma trattoria e uma osteria? Pois é.

Para entender melhor, é preciso voltar um pouco no tempo. Em meados do século XV, surgem na região da Emilia Romagna (primeiro em Ferrara e depois em Bologna) as primeiras osterie, que nada mais eram que estabelecimentos onde as pessoas se encontravam para beber vinho.

Por serem “pontos de encontro”, normalmente ficavam em lugares de passagem ou zonas comerciais – perto de cruzamentos, praças e mercados. A segunda osteria mais antiga da Itália é a Osteria del Sole, em Bologna, situada desde 1465 na zona do antigo mercado, o Quadrilatero, bem pertinho da Piazza Maggiore, o coração da cidade.

Divulgação Osteria del Sole Bologna
(Divulgação Osteria del Sole)

É interessante usá-la como exemplo para entender melhor o conceito original desse tipo de lugar: até hoje, na Osteria del Sole, a oferta é exclusivamente de vinhos (e algumas opções de cerveja). Isso mesmo, não existe cozinha. Aí você me diz: “Peralá, vou até Bologna, decido ir a esse lugar que é sempre apinhado e bebo de estômago vazio?”

Não necessariamente: é permitido levar para dentro do estabelecimento o que você quiser comer. Por isso, graças à sua localização – em meio à maior concentração de lojas de frios, queijos e outros produtos locais de Bologna – a melhor pedida é comprar pão e mortadela ali do lado antes de entrar e, uma vez dentro, sentar e pedir uma boa garrafa de vinho. Mais bolonhês impossível.

Mas voltando ao ponto: em poucas palavras, osteria nasce como um lugar para beber e comer, nessa ordem.

E se, por outro lado, o objetivo principal for comer? Aí as coisas se complicam um pouco. Vamos por partes: para uma refeição completa, existem basicamente duas opções: a trattoria e o ristorante. Se você quiser uma comida caseira, típica da região, em um ambiente mais simples, vá a uma trattoria.

Trattoria
Prato típico de uma trattoria da região de Bologna: tagliatelle com linguiça e ervilhas

Se, por outro lado, a intenção for ir a um lugar mais refinado, onde o cardápio seja menos tradicional e mais inventivo, a escolha certa é um ristorante.

Osteria Magenes
Sobremesa chique de um restaurante em Milão

Mas não se engane: na prática, com o passar do tempo, as distinções entre esses termos – e tantos outros, como veremos a seguir – ficaram bem mais fluidas. Trattoria e osteria, hoje, são quase sinônimos, e o nome remete mais às origens do lugar que ao “estado atual”. Indo além, até um ristorante com três estrelas Michelin pode ter sido uma osteria no passado: o atual restaurante numero um do mundo, por exemplo, é a Osteria Francescana, do Massimo Bottura.

Para um almoço rápido existem basicamente três opções: a tavola fredda, a tavola calda e o bar. Ainda que uma não exclua a outra (você pode encontrar um bar com tavola fredda e tavola calda…), os conceitos são: na tavola fredda, você encontra opções que não necessitam preparo prévio ou cozimento – no máximo aquela esquentada no micro-ondas. Saladas e sanduíches são as opções principais.

Na tavola calda, por outro lado, você também encontra comidas muito pouco elaboradas, mas que normalmente requerem fogão ou forno para sua preparação (exemplo clássico: arancino, friturinhas em geral).

brioches1Já o conceito de “bar italiano” é mais peculiar – e contra-intuitivo para estrangeiros. Já falei com mais detalhes dele aqui, mas basicamente é o lugar onde as pessoas vão para tomar café da manhã, tomar um cappuccino no meio do dia, ou fazer um aperitivo no final da tarde (os bares, no geral, não ficam abertos até a madrugada; para um drinque à meia-noite normalmente você deve ir a um pub).

Por último: digamos que você queira comer e dormir. Vai para onde? A uma locanda. Essa figura é mais rara, mas ainda existe, principalmente fora das grandes cidades. Um exemplo, de que já falei pouco tempo atrás, é o Amerigo, em Savigno.

Infográfico - Onde comer na Itália
Recapitulando…

Espero não ter confundido demais as bolas… e tenha certeza que não falei de muitas outras figuras, como a buca (um lugar abaixo do nível da rua – como o Buca Lapi, em Firenze, do qual já falei por aqui), o agriturismo, a taverna… mas por ora paro por aqui.

E termino o post retomando a frase com que comecei: a despeito da tipologia do lugar, fique tranquilo: é realmente difícil comer mal na Itália, seja onde for.

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